Minha apresentação pessoal no formato
digital.
Senhora Windsor
Era de se esperar que eu não contasse de imediato quem é a Senhora Windsor, protagonista desta história, para que o leitor ficasse muito curioso sem saber quem seria ela. Mas eu teria que dar muitas explicações até chegar à descrição da referida senhora, o que não adiantaria quase nada. Vamos às apresentações.
Se o leitor for um moço jovem e uma pessoa criativa e curiosa em relação ao nome, poderia imaginar que a Senhora Windsor é uma inglesa da pele branca como a neve, pálida, magra, dos olhos azuis e de cabelos longos e loiros.
A moça em questão deve ser delicada e muito educada; da pele lisa como o mármore. Talvez deva ser muito culta, ter lido muitos livros. Deve tomar chá com leite e comer biscoitos para matar a fome. A voz é suave, uma pessoa sonhadora e de fino trato.
A figura é interessante, mas não é o caso da nossa heroína. Se o leitor dessas linhas não é criativo e nem curioso, então a Senhora Windsor será, nesse caso, uma pessoa totalmente diferente. Não seria mais inglesa e sim americana, com a pele corada, formas arredondadas, olhos grandes, um verdadeiro mulherão.
Boa de garfo e chegada a uma boa bebida, esta Senhora Windsor prefere um bom assado à leitura de um livro.
É uma grande mãe de família, religiosa, ignorante e dona de casa, conforme manda a famosa tradição machista e conservadora.
Já não será o mesmo sentir de um leitor que tenha passado dos cinquenta anos e vir diante de si uma velhice sem grandes posses. Para esse, nossa Senhora Windsor seria uma excelente personagem de uma história digna de ser contada, se fosse inglesa de uns cinquenta anos, dotada de grande fortuna, e que, chegando ao Brasil estaria à procura de inspiração para escrever um romance, mas ao invés disso, encontrasse um romance verdadeiro, casando-se com esse nosso último leitor. Nossa heroína não seria completa se não tivesse óculos de leitura, cabelos cacheados, longos e grisalhos. Talvez usasse luvas brancas de renda e chapéu de linho.
Esperto mesmo é o leitor que pensa ser nossa heroína não uma inglesa e sim, uma brasileira de porte bem avantajado, de corpo perfeito, com o nome Windsor por se tratar de uma moça muito rica.
Essa última interpretação seria excelente, se fosse verdadeira; infelizmente nenhuma das interpretações estão corretas. A Senhora Windsor não é uma menina romântica, nem uma mulher gorda, nem uma velha muito culta, e muito menos uma jovem brasileira rica. Nesse caso, todos os supostos leitores se enganaram; Senhora Windsor é uma cadelinha da raça Galgo, uma das raças de cães mais antigas do mundo, muito utilizados para a caça e para a aposta em corridas.
Muitas pessoas podem perder o interesse pela história, agora que sabem da origem da heroína. Posso dizer que isso será um erro. Senhora Windsor, apesar de ser apenas uma cadelinha, já teve a honra de ter o nome publicado nas páginas das redes sociais da internet, em cartazes espalhados pela cidade e também em um jornal antes de participar desse livro. Na publicação dos classificados aparecia o seguinte anúncio:
Foi perdida uma cadela da raça Galgo, na noite de ontem. Atende pelo nome de Senhora Windsor. Oferece-se uma recompensa de R$ 5.000,00 para quem a encontrar e devolver à Rua Riachão número... Senhora Windsor tem uma coleira com o seu nome escrito.
Todo mundo que viu aquele anúncio começou a procurar a cadelinha pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro, tudo isso pela recompensa. Qualquer cachorro que se parecesse com a foto colocada no jornal, era inspecionado para confirmar se não seria a fugitiva. Como muita coisa que acontece nessa vida, quem realmente encontrou a cachorrinha nem estava procurando. Ela já estava hospedada na casa de um colecionador de cães, morador do bairro Santíssimo.
O Dr. George
Não se sabia exatamente porquê, mas o fato é que, Dr. George fazia coleção de cães. Alguns poderiam dizer que seria simplesmente uma paixão pelo símbolo de fidelidade e apego dos animais e outros pensariam que seria a decepção com os homens que teria feito ele preferir a companhia dos cães.
O que realmente importa é que a coleção era muito bonita e composta por uma diversidade enorme de raças, tamanhos e cores. O Dr. George cuidava deles como se fossem seus filhos; se algum deles morria, ele ficava muito triste. Pode-se dizer que, para o senhor George, o mundo sem cães, é muito vazio e sem graça.
O Sr. George não era uma pessoa excêntrica, era uma pessoa comum. Ele gostava de cães como outros homens gostam de futebol ou de carros. Os cães eram o seu time do coração ou o seu carro da moda, por assim dizer. Ele cuidava deles com o mesmo amor que os torcedores têm pelos seus times ou como os fãs de carros têm pelo brilho da lataria dos seus. Ele também gostava de futebol, torcia pelo Vasco, mas não era de ficar frequentando estádio para ver jogos, não importava muito para ele, se seu time ganhava ou perdia. Da mesma forma, não era muito fã de ficar cuidando das aparências com algum tipo de carro esportivo da moda. Esse não seria o seu interesse principal.
O Dr. George era um homem de uns trinta e quatro anos, bem educado, de boa aparência e com uma inteligência única. Ele se formou em medicina e exercia a profissão já há algum tempo tratando de doentes e fazendo pesquisas sobre cura de moléstias graves. Acontece que apareceu na cidade do Rio de Janeiro, uma epidemia de um vírus perigoso estudado pelo Dr. George; ele desenvolveu a cura contra esse vírus e foi contratado por uma indústria farmacêutica para a produção do medicamento. Com isso, ele ganhou muito dinheiro, ficando com uma boa estabilidade financeira. O Dr. George tinha dinheiro suficiente para manter toda a sua família, composta por aproximadamente 200 cães.
Na noite em que Senhora Windsor sumiu, George voltava para casa quando a encontrou perdida na calçada tomando sereno. A cadelinha o acompanhou, e ele, percebendo que ela não tinha dono, levou para o seu bairro.
Logo que chegou em casa, examinou a cadelinha e percebeu que a Senhora Windsor era muito bem cuidada, um exemplar muito bonito de sua raça, tinha olhos castanhos que mostravam uma aparência bem saudável. George examinou cuidadosamente a cachorrinha e leu o seu nome na coleira. Percebeu que ela teria um dono e que ele poderia estar sentindo falta dela.
— Se o seu dono não aparecer, vou ficar contigo, disse ele.
Entregou Senhora Windsor a um funcionário encarregado de cuidar dos cães.
Senhora Windsor foi alimentada, enquanto George planejava o seu futuro na casa.
A alegria de George durou pouco, somente uma noite. Quando leu o jornal no dia seguinte, viu o anúncio e a oferta de recompensa pela cachorrinha. Ele ficou pensando na dor que estaria sentindo a pessoa que havia perdido a Senhora Windsor, visto que, estaria muito chateado se isso tivesse acontecido com ele. Resolveu devolvê-la, mas ficou triste porque já tinha se apegado. Até pensou em desistir, mas pensou melhor sobre os sentimentos dos antigos donos. Devido ao seu apego com o animal, resolveu devolvê-lo pessoalmente, almoçou, alimentou a Senhora Windsor e saíram os dois em direção à rua do anúncio.
Yasmin
A rua Riachão não tinha nada de muito especial, a casa que tinha o número indicado no anúncio era bonita e indicava que, quem lá morasse, tinha posses, tinha uma escada na entrada. Antes mesmo que George batesse palmas no corredor, Senhora Windsor, reconhecendo o lar, começava a pular de contente e a soltar uns sons alegres e agudos de alegria.
Veio um menino saber quem chamava; George disse que vinha devolver a fugitiva. O menino correu para anunciar a notícia. Senhora Windsor, aproveitando uma fresta, pulou e subiu pelas escadas. George começou a descer, pois estava cumprida a sua tarefa, quando o menino voltou pedindo para subir e entrar na sala.
Na sala não havia ninguém. Algumas pessoas têm o hábito de querer impressionar as visitas, deixando-as sozinhas por um tempo para que possam admirar a casa antes de serem atendidas. É possível que esse fosse o costume dos donos daquela casa, foi o que pensou o Sr. George, mas não foi bem esse o caso, porque mal o médico entrou pela porta do corredor surgiu alegremente do outro lado uma velha com a Senhora Windsor nos braços.
— Sente-se por favor, disse ela apontando para uma cadeira.
— Eu estou com um pouco de pressa, disse o médico sentando-se. Vim só trazer a cadelinha…
— Não imagina como estávamos desesperados sentindo a falta da Senhora Windsor…
— Imagino sim; eu também gosto de cães, e se sumisse um, eu sentiria muito. A sua Senhora Windsor…
— Desculpe! Interrompeu a velha; minha não; Senhora Windsor não é minha, é da minha sobrinha.
— Ah! ...
— Ela está vindo.
George levantou-se justamente quando entrava na sala a sobrinha em questão. Era uma moça de uns vinte e oito anos, muito bonita, uma dessas mulheres que não aparentam a idade. Usava um vestido escuro e justo, mostrando a sua silhueta, tinha a pele bem branca. Era um vestido curto, mas muito elegante, e que chamava a atenção para a beleza da mulher. Tinha o corpo esbelto, cabelos castanhos, a boca pequena e o rosto muito bonito. Mas o que chamava mais a atenção naquele rosto, eram os olhos verdes parecendo esmeraldas. George nunca tinha visto olhos tão lindos em toda a sua vida; na verdade ele nunca conheceu uma mulher de olhos verdes e ficou bem impressionado.
Um dia, conversando com uns amigos, afirmou que se algum dia conhecesse uma mulher de olhos verdes, fugiria dela.
— Por quê? Perguntou um dos amigos à época.
— A cor verde é a cor do mar, respondeu George; se eu evito as tempestades de um, evitarei as tempestades dos outros.
Fica a critério do leitor avaliar a opinião de George a esse respeito.
George cumprimentou a moça, e ela, com um gesto, pediu para ele se sentar novamente.
— Muito prazer em conhecê-lo, meu nome é Yasmin, agradeço-lhe muito por ter devolvido a minha cachorrinha, eu gosto muito dela, disse a moça sentando-se.
— E eu dou graças a Deus por tê-la achado; podia ter caído em mãos erradas.
Yasmin fez um gesto para a Senhora Windsor, e a cadelinha, saltando do colo da velha, foi até Yasmin; levantou as patas dianteiras e colocou sobre os joelhos da moça.
Durante esse tempo, uma das mãos da moça brincava com uma das orelhas da cadela, e com isso deixava que George admirasse suas mãos.
Apesar de George estar adorando ficar ali, achava esquisito demorar muito. Ia parecer que estava esperando a recompensa. Para escapar disso, preferiu parar de admirar a moça e levantou-se dizendo:
— A minha missão está cumprida…
— Mas... interrompeu a velha.
George compreendeu que a tia iria tocar no assunto e se adiantou:
— Fico muito feliz em ter restituído a cadelinha à sua verdadeira dona, não quero nenhuma recompensa. Com licença…
As duas agradeceram a gentileza do rapaz e se despediram.
George saiu impressionado pela beleza de Yasmin, além de sua educação e seu jeitinho delicado. Ficava pensando que, se realmente aquela moça agia sempre dessa maneira, eles poderiam se dar muito bem. Ficou intrigado com o seu olhar um tanto triste. Suspeitava que talvez aquilo fosse resultado de algum trauma antigo. George ficou somente um pouco preocupado com os olhos da moça, que o assustavam um pouco. Aqueles lindos olhos verdes. Apesar desse pensamento, George não era do tipo supersticioso, e também era muito romântico; podemos afirmar que, essa era a sua fraqueza.
Conversando com um amigo sobre o ocorrido, e falando sobre Yasmin, George disse que poderia gostar dela se não tivesse olhos verdes.
O amigo riu de sua ideia e disse:
— Mas, doutor, não entendo sua preocupação; já ouvi dizer que olhos verdes indicam uma boa alma. Além disso, a cor não quer dizer nada, a questão é a forma como se olha. Podem ser até azuis como o céu e mesmo assim, traiçoeiros como o mar.
A observação deste amigo não foi boa, acabou desanimando mais ainda o médico. Mas ele não teve dúvida, não hesitou e tomou uma decisão.
Algum leitor pode até achar bobagem esta situação dos olhos verdes e sobre a sua qualidade. Mas isso é só porque o leitor talvez não tenha muita experiência de vida. Existem muitas histórias de homens excêntricos com suas superstições e crendices. Muitos deles são bem instruídos, outros são guerreiros valentes. O nosso personagem não é diferente.
Para compensar essas fraquezas, já foi dito aqui que George tinha muitas outras qualidades. Adotando a ideia do amigo, George concluiu que seu futuro estava nas mãos de Yasmin. Esse era o seu plano de felicidade; uma casa no litoral, assistindo ao espetáculo do pôr-do-sol. Yasmin e ele, apaixonados, vivendo felizes para sempre. O sonho de George continha outros detalhes que seria demorado mencionar aqui. George pensou nisto alguns dias; chegou a passar algumas vezes pela rua da moça; mas não chegou a ver nem Yasmin, nem a tia; então desistiu e voltou a dar atenção aos cães.
A coleção de cães era uma verdadeira galeria de nomes ilustres. O mais estimado deles chamava-se Alexandre; havia um vira-lata chamado Júlio; um cão d’água que se chamava Mandala; Amélia era o nome de uma cadelinha, e César um enorme cão da raça fila. Quando George estava no meio dessa gente ilustre, ele se esquecia do resto do mundo.
Arnaldo
Uma vez, saindo de uma sorveteria na companhia de um amigo, George viu passar um carro com duas senhoras dentro que lhe pareciam familiares. O seu amigo percebendo o espanto lhe perguntou:
— Que foi?
— Nada; acho que conheço aquelas senhoras. Viu o carro que passou, Arnaldo?
— Não.
O carro havia entrado em uma rua e os dois seguiram na mesma direção. Logo depois, o carro parou em frente à uma loja, e as duas desceram e entraram. George, quando viu o carro, correu até o local juntamente com o amigo Arnaldo.
Poucos instantes depois, saíram da loja Yasmin e sua tia. George entrou rápido, como se fosse comprar alguma coisa, e aproximou-se das duas. A primeira que o reconheceu foi a tia. George cumprimentou-as e elas responderam. Ao pé de Yasmin estava Senhora Windsor, que, devido ao bom faro, saltou de alegria ao ver George, chegando a tocar-lhe o estômago com as patas dianteiras.
— Parece que a Senhora Windsor ficou com boas lembranças suas, disse Dona Isolda (assim se chamava a tia de Yasmin).
— Acho que sim, respondeu George brincando com a cachorrinha e olhando para Yasmin. Justamente nesse momento entrou Arnaldo.
— Só agora reconheci as senhoras, disse ele.
Arnaldo apertou a mão das duas senhoras, primeiro Isolda e depois Yasmin.
George não contava com isto, mas ficou animado por ter a chance de ficar mais íntimo da família.
— Seria bom, disse ele a Arnaldo, que me apresentasse a estas senhoras.
— Você não as conhece? Perguntou Arnaldo assustado.
— Mais ou menos, respondeu a velha tia; quem o apresentou foi Senhora Windsor. Isolda se referia ao ocorrido com a cadelinha.
— Pois, nesse caso, respondeu Arnaldo, apresento o meu amigo George.
Feita a apresentação, o atendente da loja trouxe as compras de Yasmin, e as duas senhoras despediram-se dos rapazes convidando-os para irem vê-las em casa.
Nesse encontro Yasmin quase não disse uma palavra. Somente cumprimentou os rapazes e se despediu.
Quando ficaram sozinhos, saíram pela rua calados. George pensava em Yasmin; Arnaldo pensava em descobrir os segredos de George. Cada um tem suas manias, e a mania de Arnaldo era ser confidente dos seus amigos. Não foi difícil descobrir os segredos de George; antes de chegar à sorveteria da qual tinham saído, Arnaldo já sabia de tudo.
— Você entende agora, disse George, porque eu preciso ir à casa da Yasmin; preciso vê-la; quero ver se consigo…
George parou a frase aí.
— Consegue o que, disse Arnaldo; se consegue ser amado? Por que não? Mas já aviso que não vai ser fácil.
— Por quê?
— Yasmin já rejeitou cinco casamentos.
— Com certeza não amava os pretendentes, disse George concluindo.
— Amava todos, respondeu Arnaldo.
— Então houve algum problema.
— Também não. Não sei exatamente o que acontece. É uma moça esquisita. Se acha que tem chance, se joga de corpo e alma; mas toma cuidado com seus sentimentos, para não se magoar.
O Reencontro com Yasmin
Dias depois, Arnaldo e George foram à casa de Yasmin, e passaram meia hora conversando. Ocorreram outras visitas; eram mais frequentes da parte de George que de Arnaldo. D. Isolda foi mais amável que Yasmin; só depois de algum tempo é que Yasmin começou a aparecer.
Era difícil deixar de fazer isso porque George, apesar de não ser muito bom de conversa, conseguia entreter as duas quando pareciam muito aborrecidas. O médico sabia tocar piano e fazia isso muito bem; e às vezes era bom em jogar conversa fora.
Não foi difícil para ele, ficar íntimo da família. Depois de algum tempo, soube por Arnaldo que Yasmin era viúva. George se assustou um pouco.
— Do jeito que você falou, parecia que ela era solteira, disse ele ao amigo.
— É verdade, não me expliquei muito bem; os casamentos recusados foram todos propostos depois da viuvez.
— Há quanto tempo ela é viúva?
— Há três anos.
— Agora entendi, disse George depois de algum tempo; quer ficar fiel ao morto.
Arnaldo não acreditava muito nisso; sorriu sobre a observação do amigo, e depois falou:
— Mas como já disse, ela amava apaixonadamente o marido e também parecia gostar dos outros pretendentes.
— Então, não entendo.
— Nem eu.
George a partir desse momento começou a cortejar mais a viúva; Yasmin percebeu os olhares de George e desdenhou tanto que o rapaz pensou em abandonar a ideia; mas, ao mesmo tempo que a viúva recusava as investidas, não deixava de lhe tratar com educação e carinho quando tratavam de assuntos mais corriqueiros.
Amor repelido é amor multiplicado. Cada recusa de Yasmin aumentava a paixão de George. Ele nem tratava da mesma forma seus cãezinhos. Os seus empregados começaram a notar a diferença de comportamento e supuseram que havia algum problema. Ficaram mais assustados quando George chegou em casa e, acidentalmente, chutou o focinho de uma cadelinha, quando ela comemorava a sua chegada.
Arnaldo também percebeu o sofrimento do amigo e tentou ajudá-lo. Mas isso não ajudou muito; George ouvia as palavras e contava tudo o que sentia. Arnaldo encontrou um meio de George esquecer um pouco a paixão: era parar de ir à casa de Yasmin. O que George respondeu da seguinte forma:
— A ausência pode até diminuir as pequenas paixões, mas aumenta as grandes, assim como o vento apaga as velas, mas espalha as fogueiras.
Passaram três meses. Yasmin continuava irredutível; mas a viúva nunca deixou de ser amável com George. Era isto o que principalmente deixava o médico aos pés da insensível viúva; não perdia a esperança.
Qualquer leitor mais esperto pensaria que George não deveria ficar frequentando a casa de uma jovem com aquela fama, seria perda de tempo. O médico até pensou nisso, mas mudou de ideia devido às orientações de um outro rapaz, João, filho de D. Isolda. Esse rapaz era um boa vida que conseguia gastar uns R$ 5.000,00 por mês sem nunca ter ganho esse dinheiro, graças à bondade de sua mãe. Frequentava lugares caros, onde gastava muito tempo e dinheiro. Gostava de esbanjar, montava bons cavalos, mantinha o luxo de algumas moças da alta sociedade e alguns oportunistas desconhecidos.
A companhia desse rapaz ajudava na situação de George que usava a sua presença para calar a boca dos fofoqueiros de plantão, que não tinham o que fazer a não ser falar mal da vida alheia.
Yasmin parecia não ligar para fofocas da mesma forma que não ligava para as investidas de George.
Ela amava a mãe, tinha um capricho muito grande por Senhora Windsor, gostava de boa música, e lia romances. Vestia-se bem, sem ligar muito para a moda; e não era muito de dançar. Não falava muito, era delicada e graciosa.
Quando George aparecia lá, ela aparentava gostar de sua companhia. O médico iludia-se um pouco, achando momentaneamente que era correspondido. Yasmin gostava muito da presença do rapaz, mas não parecia estar apaixonada por ele.
Aquela situação não era suportável por muito tempo. Uma noite, juntando forças não se sabe de onde, George fez a seguinte pergunta para Yasmin:
— Você foi feliz com seu marido?
Yasmin se espantou e olhou nos olhos do médico, que pareciam paralisados.
— Fui, disse ela depois de algum tempo.
George não disse mais nada; não esperava aquela resposta. Confiava demais na intimidade entre eles e queria descobrir de alguma forma a causa da insensibilidade da viúva. Errou o cálculo; Yasmin ficou séria durante algum tempo; D. Isolda chegou para salvar George daquela situação. Pouco depois Yasmin voltou às boas, e a conversa continuou animada e íntima como sempre. A chegada de João animou mais ainda a conversa; D. Isolda, com olhos e ouvidos de mãe, achava que o filho era o rapaz mais engraçado deste mundo; mas a verdade é que ele era uma pessoa bem falsa. A mãe ria de tudo que o filho dizia; o filho dominava, só ele, a conversa, fazendo piadas. George via todas essas coisas, e aturava o rapaz.
A entrada de João, animando a conversa, fez o tempo passar rápido; às dez, George foi embora com João, mas logo se separaram indo em direções opostas.
A Carta
Nessa mesma noite George resolveu dar um golpe final naquela situação; escrevendo uma carta para Yasmin. Não parecia uma boa ideia, mas ele não hesitou, pensando que o papel aceitaria bem melhor as ideias do que dizê-las verbalmente. A carta foi escrita de forma impaciente; no dia seguinte, logo depois de almoçar, George meteu a carta dentro de um livro, colocou em um envelope, e mandou-o pelo seu funcionário à Yasmin.
A viúva abriu o envelope, e pôs o livro sobre a mesa da sala; meia hora depois voltou e pegou no livro para ler.
Foi só abrir o livro e carta caiu, nela estava escrito o seguinte:
Qualquer que seja a causa da sua hesitação, eu a respeito, mas, se você sente algo por mim, não acha justo que eu reclame? Já deve ter percebido o meu amor, assim como eu percebi sua indiferença; mas, por maior que ela seja, não é párea com o amor profundo e poderoso que sinto em meu coração. Não irei lhe contar quantos noites já passei acordado e quantas lágrimas já derramei, por sua causa. Acredito que talvez isso não seja do seu interesse.
Tenho medo de perguntar o motivo de sua indiferença inicial em relação a mim; mas gostaria de saber por que motivo e quanto tempo mais você não vai me dar atenção? Gostaria de saber porque foge de mim? Perdoe-me pela pergunta, mas estou querendo decifrar esse mistério. Às vezes penso que alguma coisa muito grave aconteceu no seu passado, e queria curar essa ferida do seu coração, deixar você feliz novamente.
Acredito que minha intenção seja nobre. Se você realmente não tem nenhum sentimento por mim, perdoe-me a ousadia em escrever essa carta. Você deve rasgá-la e esquecer que a leu, peço somente que não guarde mágoa de minha pessoa.
A carta era bem simples e não exprimia muito bem os sentimentos do seu autor, mas talvez tivesse exigindo uma explicação que Yasmin não pudesse dar.
Quando George disse a Arnaldo que havia escrito à Yasmin, o amigo do médico começou a rir desesperadamente.
— Fiz mal? Perguntou George.
— Estragou tudo, meu amigo. Os outros pretendentes começaram também por carta; foi justamente a certidão de óbito do namoro.
— Paciência, se acontecer o mesmo, disse George levantando os ombros, mas eu preferia que não ficasse falando dos pretendentes; como se eu fosse igual a eles.
— Não queria casar com ela?
— Sem dúvida, se fosse possível, respondeu George.
— Pois era justamente o que os outros também queriam; casar e entrar para a uma família de posses. Um dos pretendentes dispensados fui eu.
— Você?
— É verdade; mas calma, não fui o primeiro, nem o último.
— Escreveu uma carta também?
— Como os outros; como eles, não obtive resposta; isto é, obtive uma: ela me devolveu a carta. Então agora é só esperar para ver se é verdade ou não.
Arnaldo tinha este hábito de dizer tudo que lhe vem à mente, seja bom ou ruim, achava que amigo de verdade não se deve esconder nada. Depois disso, George foi para casa, onde passou a noite em claro.
Arnaldo estava enganado; a viúva respondeu à carta do médico da seguinte forma:
Eu perdoo você; só não quero que me escreva outra vez. Só não correspondi às suas investidas por questão do meu temperamento meio medroso.
A carta chegou a ser pior do que a expressão da moça. George leu-a muitas vezes, para tentar entender; mas foi trabalho perdido. Uma coisa ele concluiu; era que havia alguma coisa oculta nos pensamentos de Yasmin em relação a um relacionamento; depois pensou outra coisa, que Yasmin perdoaria se ele escrevesse outra carta.
A primeira vez que George foi à casa de Yasmin ficou embaraçado sobre a forma como falaria com ela; a viúva o tranquilizou, tratando-o como se nada tivesse acontecido. George não pode falar sobre as cartas por causa da presença de D. Isolda, mas achou bom isso, porque não sabia bem o que dizer caso ficasse a sós.
A Indiferença de Yasmin
Dias depois, George escreveu uma segunda carta à viúva. A carta foi devolvida sem resposta. George arrependeu-se de ter abusado da ordem da moça, e resolveu, de uma vez por todas, não voltar à casa dela. Nem tinha ânimo de aparecer, nem julgava conveniente estar perto de uma pessoa a quem amava sem esperança de ser correspondido.
Depois de um mês, George ainda estava muito apaixonado pela viúva. A ausência, acabou aumentando o amor.
Procurava se distrair na vida agitada do Rio de Janeiro; começou a escrever um estudo sobre sua área de atuação na medicina, mas não conseguia se concentrar, e saiu tudo errado. Fez quanto pôde para se esquecer de Yasmin; mas era impossível.
Um dia de manhã apareceu o filho de D. Isolda perguntando por que não ia mais à casa de Yasmin. George se desculpou como pôde sobre a ausência, dizendo que andava atarefado. João não compreendia bem o que estava acontecendo; vendo George mergulhado no trabalho, perguntou-lhe se estava estudando para ser político. João achava que se estudava para ser político!
— Não, respondeu George.
— Minha prima também anda com livros, e não acho que pretenda ser política.
— Ah! Sua prima?
— Atualmente não faz outra coisa. Fica no quarto o tempo todo lendo.
George imaginou que Yasmin fosse uma escritora, talvez uma poeta, que preferia as palavras ao invés do amor dos homens. A suposição era infundada. Há várias razões para se ler muito sem ser poeta.
— Minha prima nunca foi de ler tanto; agora é que começou com isso, disse João, fumando um cigarro, e oferecendo outro a George.
Fumados os cigarros, João se despediu, dizendo que iria à casa de D. Isolda o mais cedo que pudesse.
Passados quinze dias, George voltou à casa de Yasmin.
Encontrou na sala Arnaldo e D. Isolda. George parecia um zumbi; tinha emagrecido e empalidecido. A melancolia o deixou abatido. Alegou que estava trabalhando muito, e começou a conversar normalmente. Fingiu estar mais animado. No fim de quinze minutos, ficou triste de novo. Durante esse tempo, Yasmin não apareceu na sala; George, que até então não perguntara por ela, não sei por que razão, vendo que ela não aparecia, perguntou se estava doente. D. Isolda respondeu-lhe que Yasmin estava um pouco incomodada.
O incômodo de Yasmin durou uns três dias; era uma simples dor de cabeça, que o primo atribuiu à leitura.
No fim de mais alguns dias, D. Isolda foi surpreendida com um pedido de Yasmin; a viúva queria ir viver na roça por algum tempo.
— Não gosta mais da cidade? Perguntou a boa velha.
— Um pouco, respondeu Yasmin; queria ir ficar uns dois meses na roça.
D. Isolda não podia recusar nada à sobrinha; concordou em ir para a roça; e começaram os preparativos. George soube da mudança, passeando de noite com João. Para o rapaz era uma fortuna aquela mudança, porque com isso ele não teria mais a obrigação de ir jantar com a mãe.
Quando George voltou para casa encontrou um bilhete de D. Isolda que dizia:
Vamos viajar alguns meses; espero que venha se despedir. A partida é sábado e eu quero te dar uma tarefa.
George tomou um chá, e foi dormir. Não pôde. Quis ler; estava incapaz disso. Era cedo; saiu. Meio sem pensar, foi para a casa de Yasmin.
A casa de D. Isolda estava fechada e silenciosa; já dormindo. George passou adiante, e parou junto da grade do jardim da casa. De fora podia ver a janela do quarto de Yasmin, pouco elevada, e dando para o jardim. Havia luz dentro; Yasmin estava acordada. George deu mais alguns passos; a porta do jardim estava aberta. George sentiu o pulsar do coração com força. Seu espírito suspeitou que ela tivesse talvez esperando por ele. Não há coração que, em alguns momentos não tenha estes sentimentos, além do que, será que ele não estaria suspeitando corretamente? Na verdade, George não tinha o direito de estar ali assim, ela o havia repelido. Ele deveria se retirar silenciosamente.
George quis manter um limite respeitoso; a porta aberta do jardim podia ser esquecimento. O médico refletiu bem que aquilo era meio loucura, e fazendo um esforço afastou-se do lugar. Adiante parou e refletiu; havia um demônio que o impelia para dentro da casa. George voltou, e entrou com precaução.
Apenas deu alguns passos e surgiu na sua frente Senhora Windsor latindo; parecia que a cadelinha tinha saído de casa sem a dona saber; George agradou-a e ela o reconheceu, porque parou de latir e começou a fazer festa. Na parede do quarto apareceu uma sombra de mulher; era a viúva que chegava à janela para ver a causa do ruído.
George se escondeu em uns arbustos que ficavam junto da grade; não vendo ninguém, Yasmin voltou para dentro.
Passados alguns minutos, George foi para o lado da janela da viúva, com a Senhora Windsor. Do jardim ele não conseguia olhar, mesmo sendo alto, para dentro do quarto da moça. A cadelinha apenas chegou àquele ponto, subiu uma escada que ia do jardim para a casa; a porta do quarto de Yasmin ficava justamente no corredor depois da escada; a porta estava aberta. O rapaz imitou a cadelinha; subiu os seis degraus vagarosamente; quando pôs o pé no último ouviu Senhora Windsor pulando no quarto e vindo latir à porta, como que avisando a Yasmin de que se aproximava um estranho.
George deu mais um passo. Mas neste momento atravessou o jardim um empregado da casa vindo pegar a cadelinha; o empregado examinou o jardim, e não vendo ninguém se retirou. Yasmin foi à janela e perguntou o que era; o empregado explicou e ela ficou tranquila quando ele disse que não havia ninguém.
Justamente quando ela saía da janela aparecia à porta a figura de George. Yasmin estremeceu nervosa; ficou mais pálida do que o normal; depois, com sangue nos olhos, perguntou quase chorando:
— O que você quer aqui?
Foi nesse momento, e só então, que George percebeu o grande erro que estava cometendo, ou para falar mais acertadamente, toda a alucinação do seu espírito. Yasmin parecia sua consciência censurando seu ato. O pobre rapaz não procurou desculpar-se; a sua resposta foi singela e verdadeira.
— Sei que cometi um erro, disse ele; não tinha razão para isso; estava louco; agora reconheço a extensão do mal que fiz. Não lhe peço que me desculpe, D. Yasmin; não mereço perdão; mereço seu desprezo; adeus!
— Compreendo, senhor, disse Yasmin; quer me obrigar a me casar me difamando, já que não pode obrigar meu coração. Não é um cavalheiro.
— Juro para você que não foi essa a minha intenção…
Yasmin caiu numa cadeira parecendo chorar. George deu um passo para entrar, visto que ainda estava à porta; Yasmin levantou os olhos cobertos de lágrimas, e com um gesto pediu que saísse.
George obedeceu; nem um nem outro dormiram nessa noite. Ambos estavam com vergonha: mas, a de George, era maior que a dela; e a sua dor era maior que o seu remorso.
No dia seguinte, George estava em casa fumando um cigarro atrás do outro, quando parou à sua porta um carro, dele desceu a mãe de João. A visita pareceu de mau agouro ao médico. Mas foi só a velha entrar, que ele percebeu não ter nada a ver com o ocorrido no dia anterior.
— Creio, disse D. Isolda, que a minha idade permite visitar um homem solteiro.
George procurou sorrir ouvindo o gracejo, mas não pôde. Convidou a boa senhora para sentar-se, esperando que ela lhe explicasse o motivo da visita.
— Escrevi para você ontem, disse ela, para que fosse me ver hoje; mas preferi vir aqui.
— Queria a minha ajuda para quê?
— Na verdade, não preciso de nenhuma ajuda, respondeu a velha sorrindo; inventei isso para falar sobre outra coisa.
— Ah!
— Sabe quem ficou hoje de cama?
— D. Yasmin?
— É verdade; amanheceu um pouco doente; diz que passou mal à noite. Eu creio que sei a razão, acrescentou D. Isolda rindo maliciosamente para George.
— Qual a razão então? Perguntou o médico.
— Não percebe?
— Não.
— Yasmin te ama.
George se levantou da cadeira num pulo. A declaração da tia da viúva era tão inesperada que o rapaz achou que estava sonhando.
— Isso mesmo, ela te ama, repetiu D. Isolda.
— Não creio, respondeu George depois de algum silêncio; você deve estar enganada.
— Engano! Disse a velha.
D. Isolda contou a George que, curiosa por saber a causa das vigílias de Yasmin, descobriu no quarto dela um diário, escrito por ela; onde leu sobre a verdade que acabava de dizer.
— Mas se me ama, observou George sentindo um mundo de esperanças, se me ama, porque recusa o meu coração?
— O diário explica isso mesmo. Yasmin foi infeliz no casamento; o marido queria somente a riqueza dela; depois disso Yasmin começou a ter certeza de que nunca seria amada realmente, e que todos que se aproximassem dela estariam interessados em seus bens. Está convencido?
George começou a protestar.
— É inútil protestar, disse D. Isolda, eu acredito na sua sinceridade; faz tempo que percebi isso; mas como convencer um coração desconfiado?
— Não sei.
— Nem eu, disse a velha, mas é por isso que eu vim aqui; eu te peço que faça o que puder para fazer minha Yasmin feliz, se é que realmente a ama.
— Acho que é impossível…
George lembrou-se de contar a D. Isolda a cena da véspera; mas arrependeu-se a tempo. D. Isolda saiu pouco depois.
A situação de George, por um lado, estava mais clara, mas também estava mais difícil que antes. Era possível tentar alguma coisa antes da cena do quarto; mas depois, George achava impossível conseguir alguma coisa.
O Casamento
A doença de Yasmin durou dois dias, a viúva ficou um pouco abatida, e a primeira coisa que fez quando melhorou foi escrever a George pedindo que fosse à sua casa.
George admirou-se bastante do convite, e foi até lá.
— Depois do que aconteceu há três dias, disse-lhe Yasmin, o senhor compreende que eu não posso ficar mal falada... diz que me ama; pois bem, o nosso casamento é inevitável.
Inevitável! Esta palavra esfaqueou o coração do médico, que aliás devia reparar o seu erro. Lembrava-se ao mesmo tempo que era amado; o que o agradava, mas também sabia da ideia que Yasmin talvez teria a seu respeito.
— Estou às suas ordens, respondeu ele.
D. Isolda se admirou da pressa em relação ao casamento quando Yasmin o anunciou nesse mesmo dia. Supôs que fosse milagre do rapaz. Pelo tempo adiante reparou que os noivos tinham mais cara de enterro que de casamento. Interrogou a sobrinha a esse respeito e obteve uma resposta evasiva.
Foi modesta e reservada a cerimônia do casamento. Arnaldo serviu de padrinho, D. Isolda de madrinha; João falou com um padre, seu amigo, para celebrar o ato.
D. Isolda quis que os noivos ficassem residindo em casa com ela. Quando George ficou a sós com Yasmin, disse-lhe:
— Casei-me para salvar a sua reputação; não quero te obrigar a ficar comigo somente por este motivo. Ficaremos como amigos até amanhã.
George saiu deixando Yasmin pensando sobre o conceito que fazia dele e a impressão das suas palavras agora.
Era uma posição bem singular a destes noivos separados por uma montanha. O mais belo dia da vida tornava-se para eles um dia de desgraça e de solidão; a formalidade do casamento foi simplesmente o prenúncio do divórcio. Menos desconfiança por parte de Yasmin, e mais cavalheirismo por parte do rapaz, teriam poupado os dois dessa situação sombria. É mais fácil imaginar do que descrever o sofrimento daquela primeira noite de noivado.
Mas o tempo acalma todos os ânimos. O tempo convenceu o coração de Yasmin que a sua suspeita era vazia; e o casamento, que antes era apenas uma formalidade, tornou-se feliz e pleno. Arnaldo ignorou estas coisas; cada vez que encontrava George chamava-o de Colombo do amor; ele tinha essa mania de fazer uma gracinha de tempos em tempos, em um intervalo de uns três meses.
Os dois esposos são ainda noivos e prometem sê-lo até a morte. Arnaldo se tornou diplomata e promete ser uma luz da nossa representação internacional. João continua a ser um engraçadinho; D. Isolda prepara-se para despedir-se do mundo.
Quanto a Senhora Windsor, que provocou indiretamente todos estes acontecimentos, saindo novamente um dia à rua foi atropelada por um carro; e morreu pouco depois. Yasmin não chorou um pouco pela nobre cadelinha; o corpo foi enterrado na chácara, à sombra de uma laranjeira; e sobre a sepultura uma lápide com esta simples inscrição:
Para Senhora Windsor
Fim